sexta-feira, 8 de junho de 2007

Vega de Valarce - 80km











Oi Pessoal,
O percuro de hoje era bastante alternado. Fortes subidas e descidas. Depois plano.
Hoje superei mais um marco do caminho- a Cruz de Ferro.
Para subir, segui pela trilha e pela carreteira, alternando conforme a quantidade de peregrinos na trilha.
Desci pela carreteira, pois estava chovendo. Exige-se muito dos freios da bici, pois é bem forte esta etapa, ainda mais com a chuva.
Agora a vista do cenário já é outra. Muitas montanhas, vales e rios. Uma grande calma...
Diz o rito que os peregrinos devem trazer uma pedra e nela depositar todos os sentimentos que gostaria de deixar, de transformar, de transmutar...Depois, deve-se jogar na Cruz a pedra para que seja transformado.
Eu nao trouxe, mas depositei aqui aquilo que queria deixar.
Até ontem, nada tinha a oferecer à Cruz. Porem tive um sonho e ofereci este sentimento a Cruz.
Sei lá, mais realmente algo acontece...
Depois o percurso segue plano até bem perto daqui. Já começo a subir para superar o Cebreiro. Isto ficará para amanha.
Vejam só, dei até entrevista ao SBT. Só nao ha data prevista para ir ao ar. É do SBT de Campinas.
Agora estou em um albergue brasileiro. Apesar de resistir bastante a ideia de froteiras, fiquei melhor por estar neste espaço.
Acho que é um sentimento de fazer parte de algo mais tangível, de um povo, de uma cultura, de uma naçao.
Acreditem, as hospitaleiras fizeram até uma feijoada vege. Estava ótima.
Assim é o caminho. Somente vivendo é que se pode conhecer, se autoconhecer.
Beijos e saudades. Bom caminho....

Rabanal del Camino - 98km

Ola pessoal,
Que felicidade ver tantas mensagens. Elas sao super bem vindas e reforçam as reflexoes, ao final do dia.
Bem, sai de Mansilha junto com os peregrinos, ou seja, super cedo. O dia estava clareando.
Tomei o cafe da manha que havia comprado e parti alegre para o caminho, esperando novas experiencias, novos encontros, novas aprendizagens.

Fui direto para Leon, cidade grande e bonita.
A catedral é deslumbrante. Toda cercada de vitrais que refletem a luz do sol de acordo com sua posiçao.
Por dentro, as imagens estao localizadas nas laterais do templo. Seu centro é praticamente vazio o que projeta a grandiosidade. Realmente, temos que nos sentir pequenos diante de tanta demonstraçao de grandeza.






Ainda de umas pedaladas pela cidade, porem tudo ainda estava fechad. Nao faz mal, o que eu queria era o campo, a viagem...
Em Virgem del Camino tive que tomar uma decisao. Seguir pelo Caminho Frances aberto pela Junta de Castila e Leon ou ir pelo antigo caminho. O primeiro é mais confortável, acompanha a estrada e atualmente rota dos peregrinos . O segundo, mais rustico e deserto; corta fazendas e segue parte por terra, parte por asfalto.



É claro que optei pelo segundo.






A trilha segue quase em linha reta. Muita, muita pedra o que procova um desgaste grande nos braços, ombros e no trazeiro. Ufa!!!
A passagem por esta etapa é simples. Grandes áreas plantadas, nenhuma árvore, nenhuma sombra para ajudar neste dia de muito sol e calor.

Agora já se vÊ que os pelegrinos a pe sofrem menos com os pés e mais com a pele muito queimada pelo forte sol. Esses homens e mulheres sao realmente muitos persistentes.

Segui por esta estrada até Astorga. Lá encontrei mae e filha brasileiras como voluntarias em um albergue. Quase fiquei, mas o caminho me chamava e segui para Rabanal.

De Astorga paraRabanal a paisagem melhora muito.
Rabanal é um povoado bem pequeno. Esperava algo maior, mas nao.
A bice tambem apresentava problemas no cambio. Nao estava entrando a marcha mais leve, propria para subidas. As pernas trabalham bastante. Ainda bem que o percuros era bem mais plano.
Assim é que se aprende. Como nao tinha como pedir ajuda fui para a aprendizagem verdadeira: aperta daqui, gira, puxa e tudo ok.

A noite, a grande surpresa. Fui a missa na capela do povoado. Muito especial.
A capela é muito simples, sem ornmentos, sem nada.
Os tres padres- simbolico nao - fazem a missa com cantos gragorianos. Na hora em que existe a proclamaçao do corpor e sangue do Cristo, os peregrinos lêem a passagem em sua lingua mae, de acordo com a quantidade de pessoas daquele idioma. Ou seja, esta parte foi lida em espanhol, ingles, alemao e france.
Fiquei muito emocionado!
Depois chuva, jantar e cama.
É isso ai. Beijos a dos e bom caminho...

quarta-feira, 6 de junho de 2007

Mansilla de las Mulas - 81km

Ola pessoal,
Cheguei em Mansilla e ja passei da metade.

Hoje, o dia foi de muito sol.
Como sempre, sai bem cedo para aproveitar o dia.
Nesta etapa, apos os 17kms iniciais, o caminho dos peregrinos segue a margem da carreteira e corta plantaçoes de trigo.
A paisagem é infinita e pouca árvores fazem sobras para aqueles que seguem em sua busca pessoal.
Com o passar das pedaladas, já torna-se possível ver o contorno cada vez mais próximo das montanhas que deverei superar nos próximos dias.
Inicialmente a Cruz de Ferro. Um subida ate 1500mts, aproximadamente, uma descida até 650mts e depois o Cebreiro com 1300mts.
Fiz algumas paradas para alimentaçao e cheguei por volta das 14hs aqui.
Fiquei em dúvida se deveria seguir, mais resolvi ficar para relaxar um pouco mais.

Obrigado a todos pelas maravilhosas mensagens.

Beijos e bom caminho.

terça-feira, 5 de junho de 2007

Carrion de los Condes - 90km

Acordei cedo, às 6hs, pois estava ansioso para seguir em frente. Tomei um bom cafe no hotel e parti.

Já quando saia de Burgos, a alegria tomava conta de mim.
Voltar ao caminho das estrelas, sentir cheiro da terra, do mato; ouvir o canto dos pássaros; ver o caminho a ser percorrido. Este momento foi de grande importância e conhecimento.
Segui pela trilha, acompanhando as setas amarelas que orientam em todo momento os peregrinos de Santiago.








As estrada é bem cascalhada e segue tranquila sem grandes dificuldades. O pedal gira forte e rápido, acho que é em funçao de estar trabalhando de forma hibrida - vinho e água. hehehehe.
Tudo muito florido, paisagens que acalmam a alma e nos faz lembrar quem somos.








Após Castrojeriz o sendero mais forte se faz notar. Uma montanha pela frente, o Alto de Mostelares. Uma subida até 990m.










Segui sozinho, mas a trilha estava cheia de ciclistas. Todos passavam rapidamente em busca dos seus destinos. Eu seguia devagar, observando tudo.

Terra, asfalto, flores, plantaçoes, povoados, pessoas, igrejas, ovelhas, pedras, caminho, eu e a bici - o cenário está todo pronto, basta querer.

O dia foi ideal para o pedal. Pela manha, pouco sol, pouco vento e nada de frio. À tarde, muito sol e calor. Cheguei em Carrion por volta das 16hs. Que dia perfeito!!!

Recados:
Pi, essas flores sao para você.









Obrigado a todos pelos recados.
Beijo a todos e bom caminho...

segunda-feira, 4 de junho de 2007

Burgos - dia de turista

Seguindo a orientaçoes estou aqui bebendo uma taça de vinho. Realmente é ótimo.

Hoje, o dia foi dedicado ao turismo clássico.
Bom, para começar dormi em um hotel. Nada contra os albergues, mas precisava ficar apenas com os meus barulhos. hahahahaha

Também levei a roupa para lavar em uma lavanderia e deixei a bici para uma limpeza e revisao geral. Ela estava fazendo muito barulho em funçao da lama que peguei nos dias anteriores. Eu tentei limpá-la, mas o barulho nao terminou.

Burgos é uma cidade linda. Também é a maior cidade do Caminho. Tem cerca de 170 mil habitantes.
Muito da cidade, da parte cultural, gira em torno do herói El Cid. Ele foi o principal personagem na luta contra os mouros na regiao e responsável pela expulsao dos mesmos.

Comecei o circuito pelo Caminho El Cid até a catedral da cidade.
A catedral é uma obra de proporçoes gigantescas. Levou 400 anos para ser construida e reconstruida. É possível vê-la de todos os lugares.



Ela é dividida em duas partes. A primeira, destinada às oraçoes e cultos. Foi por ai que entrei.


Ao entrar, senti o peso de toda sua magnitude e fiquei emocionado. Porém, o sentimento nao era de exaltaçao, mas sim de opressao. Tudo parecia reduzir a existência humana.
Senti como se houvesse a manutencao do conflito e nao ao perdao; as conquistas do cristianismo e nao a partilha; a desagregacao e nao a religiao (ou uniao) entre todos.

No altar, uma obra gigantesta repleta de anjos e personagens da história. No alto, um cavaleiro sob um corcel branco com anchas negras, sacando uma espada pisava os mouros.


Fiquei muito mal com essa imagem, pois é totalmente contra aquilo que acredito.



Nao contente, indaguei um padre sobre quem era aquele cavaleiro. Sua resposta foi o Apóstolo Tiago. Disse-me ele que em uma batalha contra os mouros no século IX, o exército cristao estava perdendo a luta e decidiram parar, depor as armas e rezar. Naquele momento, apareceu Sao Tiago em seu corcel. Tal apariçao foi motivo de amino e o exército cristao acabou vencendo a batalha.


Que choque!! Mas ainda bem que posso e tenho o direito de acreditar em outras coisas.
Depois de muitas reflexoes e emoçoes, sai daquela ala e fui para a segunda.

A segunda ala da catedral é como um museu. Muito grande com alas dedicadas aqueles que foram personagens importantes da regiao de Burgos e a Maria, além de obras de arte renascentista e barroca.


Como sempre, juntei-me a um grupo de crianças para ouvir as explicaçoes do guia. Precisam ver cada pergunta inteligente que os meninos e meninas faziam.




Sai da catedral e circulei por outros pontos turísticos até achar a maior de todas as maravilhas.
Adivinhem o que...um restaurante vegetariano. Obaaaaa.
Comidinha de verdade, maravilhosa.....

A tarde, terminei meu circuito, fui buscar as roupas e bici e agora estou aqui com vocês.

Amanha, sigo em frente no Caminho.

Obrigado a todos pelos recados.


Pi, que tal uma dessas????



Beijos e bom caminho....























































domingo, 3 de junho de 2007

Burgos - 70km




Hoje, acordei revitalizado e sai cedo do albergue.

Deixei o Jose terminando de arrumar sua bici e segui sozinho.



O dia foi muito bom. Estava sol e frio apenas quando ventava.


O percuros tb nao é difícil. Apenas uma parte de muita subida, chegando a 1.165metros. O cansaço acumulado nas pernas dificultou a subida, mas tudo bem porque posso empurrar a bici.





Depois desta subida, a trilha ficou ótima e com vento a favor. Ufa!!!

Encontrei novamente o Christian, ciclista alemao que conheci rumo a Logrono. Seguimos um bom trecho juntos e conversando. Ele tem 24 anos, estuda medicina e resolveu trancar para conhecer a Europa de bici. Trabalha nas férias para conseguir dinheiro. Disse que a vida nao é só trabalho e estudo e que todos devem fazer suas escolhas segundo suas vontades. É isso ai...

Depois de um tempo, ele parou para descançar e segui sozinho.

Próximo a Burgos, 13hs, estava passando por um povoado bem pequeno quanto ouvi o sino tocar. Fui conhecer a igreja e iria acontecer uma primeira comunhao. Algumas senhoras que me viram chegar vieram me chamar convidaram-me para ficar, assim como alguns meninos que logo vieram ver quem chegava.





Fiquei e várias pessoas vieram falar. Nos povoados as pessoas sao bem receptivas.
Depois, segui para Burgos. Ao chegar na cidade um "baque". A chegada é pela área indústrial e o choque do que vinha vivenciando para esta situaçao foi grande.



Ao chegar no centro, esta sensaçao terminou. O centro histórico é bem bonito, mas somente amanha irei visitá-lo.




Ficarei 2 noites por aqui para poder descansar um pouco e conhecer esta cidade que tem muita coisa para ver.

Fico por aqui, beijo a todos e bom caminho...

Obrigado pelas mensagens.








Beijo a todos e bom caminho...

Granon - 63km

Ola,
Antes de mais nada, obrigado por todos os recados recebidos. Eles valem muito para mim.

Sai cedo de Logrono, pois o albergue fecha as 8hs e segue a trilha rumo a Belorado.

A estrada é bem tranquila e mantem a mesma paisagem, ou seja, plantaçoes, povoavos pequenos, pessoas simpaticas e solitaria.
No inicio da manha e ventava contra a pedalada. Segui devagar, pois nao tenho pressa.

Mudei o ritmo da alimentaçao. Estou mais espanhol, como alguma coisa antes de sair e tomo um bom cafe por volta das 10hs. Sinto-me mais resistente desta forma.

Passei por Navarrete e nao encontrei o Manuel. Ele deve ter seguido sempre.


Já se ve a mudança na trilha. Aparecem muitas pedras e os totens feitos pelos pelegrinos.

Parei em Sto Domingo de la Calzada para carimbar o passaporte e visitar a Igreja local que tem um galo que canta para os peregrino. Se cantar, bom sinal; se nao...
A igreja estava fechada para um casamente. Esperei para ver a saida dos noivos. Foi super legal, pois eles dançaram na praça junto com bailarinas e castanholas.

Enquanto esperava, encontrei novamente o Jose, o ciclista mexicano que conheci em Roncesvalles. Seguimos junto pela trilha.

Ao chegar em Granon, Jose estava com problemas na bici. Falei para ele ficar neste povoado, mas ele queria me acompanhar. Entao algo me disse para ficar, e ficamos.

O albergue é simplismente mágico. Foi o primeiro a ser construido dentro de uma igreja. As hospitaleiras foram muito acolhedoras, fizer o jantar e o cafe da manha. Tudo para sentirem-se voluntarias.

Assistimos a missa e ao final uma bençao para os peregrinos. Depois o jantar e o padre fez a oraçao no rítmo rap., com todos ajudando na mesa. Em seguida, foi feito um encontro meditativo cujo objetivo era potencializar a vontade e dedicaçao de todos. Um vela foi passada de maos em maos e cada um fazia um oraçao no seu idioma. Muito forte este momento.

Bom, o Jose teve que resolver os problemas da sua bici. Emprestei todo meu equipamento, inclusive minha bici para ele poder comprar outro pneu. Ao final da noite, tudo resolvido.

O caminho é assim mesmo....

Beijos a todos.